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Preservação que nasce da ação

A história da Ecam Negócios Sociais mostra que o grande pilar que sustenta um meio ambiente saudável são as pessoas vivendo de uma forma sustentável.

CASTANHA – Divulgação

Quando se pensa em preservação ambiental, é fácil imaginar uma floresta verdejante, pássaros cantando, animais livres, rios limpos com suas águas correndo e nutrindo todo o ecossistema. Era para cenários como esse, nos rincões mais intocados da Floresta Amazônica, que um grupo de pessoas de diversas áreas realizava expedições com fins científicos no final dos anos 90.

Mas foi no contato com os indígenas que viviam em conexão com essa floresta há milênios que esse grupo teve certeza do quanto o ser humano tem um papel essencial dentro desse ecossistema e o quanto as suas condições de vida influenciam nas condições desse ambiente em se manter preservado.

Do Tumucumaque ao Xingu, os nomes de cada território contêm uma história, uma identidade, uma cultura que está cada vez mais difícil de ser transmitida de uma geração para outra. “As crianças dessas comunidades hoje são atendidas em escolas, mas lhes falta o tempo para estar com os mais velhos, ouvindo suas histórias. Uma comunidade que não consegue preservar sua identidade acaba ficando mais vulnerável socialmente”, conta Vasco van Roosmalen, que fazia parte desse grupo.

Apoiar o fortalecimento desses povos, e reforçar sua importância para a preservação do meio ambiente, tornou-se a motivação do grupo para se associar à Amazon Conservation Team (ACT), uma organização norte-americana para o qual desenvolveram no início dos anos 2000 um trabalho de resgate cultural em comunidades indígenas do Alto Xingu. “Era a época de ouro das demarcações de terras indígenas, mas e depois que demarcava? Não haviam políticas de apoio para que essas comunidades se fortalecessem frente aos desafios que enfrentaram na gestão dos territórios demarcados, o que não as retirava de uma condição vulnerável”, lembra Vasco.

Visando a redução dessas condições de vulnerabilidade, propôs-se a realização de diagnósticos que promovessem uma participação ativa das comunidades que lutavam para deixar de serem invisíveis para o poder público. “Há populações inteiras que nem o governo federal tem mapeadas, como as comunidades remanescentes Quilombolas, então como atender essas necessidades, permitindo que essas pessoas se desenvolvam mantendo a floresta de pé? É isso que pode garantir um futuro para a Amazônia que vive no imaginário global: dar condições de vida à Amazônia humana, onde vivem mais de 25 milhões de pessoas,” afirma Vasco.

Esse trabalho foi a semente que originou a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam), fundada em 2002 com uma metodologia própria de mapeamento colaborativo e atuação técnica, que envolve gerir recursos e implementá-los com efetividade em projetos de desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais, não apenas na Amazônia como também no Cerrado e na Caatinga. 

Ação que nasce da relação

A Ecam já nasceu se relacionando de forma muito próxima com uma série de públicos, que vão desde grupos representativos da sociedade civil, passam por grandes financiadores de ações de conservação ambiental em todo o mundo e chegam até governos e empresas. Foi na relação com esse último público que a Ecam viu o quanto é difícil para gestores de negócios quebrar alguns mitos relacionados às comunidades e suas necessidades, o que torna muito mais desafiador se relacionar com elas, especialmente quando estão em territórios impactados por suas atividades.

Foi percebendo como seu conhecimento, olhar único e metodologias aplicadas com sucesso ajudavam a quebrar esses mitos e construir pontes entre as comunidades e o setor privado, que a Ecam passou a desenvolver uma operação que é hoje a Ecam Negócios Sociais. Um time dedicado à análise de contexto de investimentos sociais por parte de empreendimentos de alto impacto como mineradoras, portos, plantas energéticas e agronegócio, dentre outros, instalados em ambientes florestais, rurais ou urbanos.

Assim, em uma via desta ponte a Ecam Negócios Sociais consegue fazer recursos de investimentos sociais privados chegarem aonde precisam chegar, com metodologias de escuta às necessidades de todos os stakeholders e criação de mecanismos financeiros e de gestão para que as comunidades desenvolvam sua autonomia, gerem riqueza e transformem sua realidade, mantendo sua identidade cultural a floresta de pé. Dessa forma, cumpre com o propósito identificado no início da Ecam.

Em outra via da mesma ponte, a Ecam Negócios Sociais consegue gerar uma melhoria substancial no relacionamento do setor privado com o meio ambiente e a comunidade, otimizando os resultados de seus investimentos, reduzindo custos com litígios e impulsionando a imagem das empresas e seus resultados.

Não há como uma empresa lucrar de forma saudável sem estar se relacionando de uma forma saudável e ética com a comunidade local. Todo mundo precisa prosperar junto e é por essa direção que nosso trabalho se orienta. Nana Pivetta, coordenadora na Ecam Negócios Sociais.

Relações que geram resultados

Foi assim que, no noroeste do Pará, uma mineradora que via suas tentativas de compensar o impacto de suas atividades esbarrarem na falta de entendimento das necessidades dos quilombolas locais, começou a transformar sua relação com essas comunidades a partir de um diálogo baseado em metodologias colaborativas construídas em conjunto com a Ecam. 

Desse diálogo, nasceu um planejamento estratégico com objetivos definidos por quem vive no território e um mecanismo financeiro para qualificar os agentes locais a acessar recursos para colocar os objetivos em prática. Entre as ações, estão um programa de investimento dos recursos dos royalties da mineradora junto à capacitação da comunidade local para acessar e aplicar esses recursos em seu desenvolvimento.

Com apoio técnico, associações comunitárias foram estruturadas e, depois de três anos, as entidades já tinham autonomia para ter mais voz e vez na definição de políticas públicas participativas, como por exemplo, a priorização de suas comunidades na fila de vacinação contra a Covid-19. Assim, o poder econômico da empresa e o poder político recém-adquirido pela comunidade, em vez de se anularem, se somaram, e colocaram a região mais próxima de realizar o desenvolvimento proposto por eles mesmo, mais próspero para os negócios e sustentável para o ambiente e para as pessoas.

“Todo o trabalho que realizamos é para que, dentro de um horizonte de tempo pré-determinado, a gente possa se tornar desnecessário. Quando chegamos nesse ponto, é porque nosso trabalho foi muito bem realizado.” Vasco van Roosmalen, fundador da Ecam Negócios Sociais

Desenvolver diálogo e relacionamento é algo que demanda tempo. Mas justamente por estar há mais de 20 anos atuando em territórios de comunidades tradicionais que a Ecam Negócios Sociais consegue hoje desenvolver estratégias eficazes de forma ágil, especialmente quando cenários emergenciais como o da pandemia pedem soluções rápidas. 

Foi assim que comunidades em estado de vulnerabilidade na região de Santarém, no Pará, e no norte do Amapá, conseguiram ter unidades de saúde mais bem equipadas e importantes incrementos nas necessidades básicas dos postos de saúde atendidas em pouco tempo, a partir de uma implementação da Ecam Negócios Sociais de recursos de um fundo de solidariedade formado por parceiros de diferentes setores.

Mas como na essência da Ecam está a escuta genuína das necessidades locais e o foco em tornar o investimento social o mais efetivo possível, para além de um atendimento às necessidades hospitalares, foram atendidas também as necessidades humanitárias e econômicas mais perenes, com compras de alimentos feitas de cooperativas locais para as cestas básicas entregues às populações mais vulneráveis, além de investimentos financeiros em cooperativas e produtores agrícolas que tiveram suas atividades impactadas pela pandemia.

O estímulo a uma economia que seja parceria da natureza é um tema constante na pauta de trabalho da Ecam Negócios Sociais, que atua para desenvolver o mercado de créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais. 

Mas transformar atividades conhecidas por serem grandes vetores do desmatamento, como a pecuária, em negócios mais produtivos e rentáveis sem precisar desmatar ou poluir as águas, também é uma das frentes da Ecam Negócios Sociais. É o caso do projeto Pecuária Sustentável, que tem ajudado pecuaristas e seus colaboradores com assessorias técnicas dentro das fazendas a realizarem um manejo do gado e da propriedade de forma muito mais eficaz e produtiva, com o menor impacto possível aos recursos naturais. 

Para que o projeto tenha perenidade mesmo após o término da assessoria técnica, são desenvolvidos mecanismos que possibilitem que os ganhos financeiros gerados pela maior eficiência sejam compartilhados com os colaboradores, para que se sintam mais valorizados e estimulados a seguir melhorando continuamente os resultados das fazendas.

Esses são apenas alguns exemplos de como a criação de pontes entre as comunidades e os setores público e privado tem sido a chave para a transformação de realidades e demonstram que o grande pilar que sustenta um meio ambiente saudável são as pessoas vivendo de uma forma sustentável. A Ecam Negócios Sociais quer expandir ainda mais sua atuação, criando estratégias sociais e financeiras para dar cada vez mais escala ao impacto social positivo que tanto se fala, mas pouco se alcança para além de projetos sociais pontuais. 

Após mais de 20 anos de atuação, a Ecam possui hoje a maturidade e as ferramentas para realizar o potencial que a sociedade tem de ser mais próspera e justa.

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