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Programação Cine Brasília

De 23 de fevereiro a 01 de março de 2023

Programador responsável: Sérgio Moriconi

Cine Brasília

O Cine Brasília lança na semana seguinte ao carnaval um dos filmes brasileiros mais aguardados do ano. Mato Seco em Chamas, dirigido por Adirley Queirós e Joana Pimenta, foi exibido em dezenas de festivais internacionais e nacionais, amealhando aplausos, prêmios e críticas super favoráveis. O filme tem um enredo surpreendente e dialoga de forma devastadora com alguns dos acontecimentos políticos dos últimos anos no país. Um pouco da origem do filme se dá quando Adirley toma conhecimento de uma reportagem do jornal O Globo sobre a favela Sol Nascente, que, na ocasião, caminhava “para se tornar a maior do Brasil”. A favela, segundo o texto, havia surgido no começo dos anos 2000, quando uma “invasão” se formou no meio do mato, “nos confins de Ceilândia, a maior cidade-satélite de Brasília.

            Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, se passa quase que inteiramente em Sol Nascente. Mais uma vez, Adirley se mantém fiel ao seu singularíssimo modo de criação e que, se valendo agora da colaboração da portuguesa Joana Pimenta, produz uma obra cujo tratamento cinematográfico e conceito não podem de forma nenhuma estar dissociados de um modo de produção onde documentário e ficção se mesclam de maneira extremamente orgânica. O filme trata de uma distopia social quase apocalíptica. Um crítico chegou a fazer uma analogia entre Mato Seco e Mad Max. Tem muito a ver. A história das irmãs Chitara e Léa é narrada também como uma lenda, quase uma alegoria, que transborda das celas da “Colmeia” – presídio feminino de Brasília – para a realidade.

            O Cine Brasília não poderia deixar de passar em branco o Dia Internacional da Mulher. Sendo assim, programamos uma sessão especial em pré-estreia do filme Fogaréu, de Flávia Neves, que inaugura a mostra Todas as Mulheres. A diretora estará presente na sessão. A seleção de filmes a serem programados homenageia todas as formas do feminino, gênero multifacetado. A mostra se estenderá até o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com mais sete outras produções, onde a mulher ou é a responsável pela direção das obras ou é a protagonista das histórias narradas. Fogaréu se debruça sobre algumas das práticas corriqueiras, como o apagamento das identidades, o machismo, o abuso sexual, corrupção tráfico de drogas, misoginia, entre outras dezenas de mazelas que oprimem e vilipendiam a mulher no Brasil. O filme foi rodado na Cidade de Goiás, antes conhecida como Goiás Velho, antiga capital do estado, e contrapõe velhas, anacrônicas e arcaicas práticas comportamentais com os impulsos do moderno e do contemporâneo.

            Curiosamente, nesta semana pós-carnavalesca, dois dos filmes de nossa, Mato Seco em Chamas, em estréia, e Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho, remanescente da semana anterior, trazem um importante protagonismo feminino e poderiam (e podem) fazer parte da mostra Todas as Mulheres.

A sambista e “guerreira” Beth Carvalho dispensa apresentações. Mas Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho nos faz ver que a muito mais a ser conhecido de sua personalidade artística e história. A cantora, que ajudou a tirar do anonimato muitos dos maiores sambistas da nossa história, foi criada na zona sul do Rio de Janeiro em uma família de classe média. Apesar de ter começado a cantar influenciada pela Bossa Nova e a tocar violão, ouvindo os acordes de João Gilberto, Elizabeth Santos Leal de Carvalho se consagrou no samba. Fã de Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso – cantoras para quem dedicou seu primeiro álbum de samba (“Canto Por um Novo Dia”) – Beth se entregou aos ritmos da periferia e mudou a história do gênero musical mais popular do país. Além de sua atuação como cantora, esta torcedora fanática do Botafogo foi uma ardorosa militante, engajada nas mais diversas causas políticas progressistas. 

Muito da riqueza de Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho se dá pelo fato de Beth Carvalho – cinegrafista amadora – ter registrado as festas em família e os pagodes que freqüentava. Tudo isso deu origem a mais de 2000 horas de registros audiovisuais, decupados pelo diretor Pedro Bronz e roteirizados por ele com o auxílio do especialista em samba Leonardo Bruno. O nome do documentário homenageia uma das canções mais conhecidas da história da música popular brasileira, Andança. Composta em 1968 por três jovens músicos, Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós, Andança ficou em terceiro lugar no Festival Internacional da Canção – ficando atrás de Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores, de Vandré, e de Sabiá, de Chico Buarque, fazendo com que Beth Carvalho, então com 19 anos, se tornasse de imediato uma estrela da MPB/samba.

            Permanece em nossa programação Perlimps, animação que dá prosseguimento ao compromisso do cinema em ter sempre em sua grade filmes infantis. Obra de Alê Abreu, o mesmo realizador de O Menino e o Mundo, Esta fábula não poderia ser mais oportuna: Claé (voz de Lorenzo Tarantelli) é uma jovem criaturinha do Reino do Sol parecida com uma raposa, mas que, na real, é um agente infiltrado na floresta, com a missão de captar os sinais e descobrir a localização dos Perlimps, únicos seres capazes de barrar o avanço do Capitão Dourado e da grande inundação, que ameaça a estabilidade da floresta. Enquanto realiza sua missão, Claé descobre que não está sozinha: Bruô (voz de Giulia Benite, a Mônica de A Turma da Mônica), uma criaturinha que parece um urso, oriunda do Reino da Lua, o está seguindo e acaba se juntando a ele na aventura, cuja trajetória ainda faz com que cruzem seus caminhos com o sábio João de Barro (voz de Stênio Garcia). As peripécias desses personagens nos fazem pensar em coisas muito sérias que afetam nosso mundo.

Também prossegue em nossa programação As História de Meu Pai. O filme trata de um assunto que nunca perde a atualidade: a relação muitas vezes opressiva do pai com seu filho. Mas o diretor Jean-Pierre Amélis contextualiza a história na circunstância dramática da Guerra Franco-Argelina e as conseqüências duradoras, especialmente em relação à saúde mental, tanto para o pai quanto para o filho.  Para o pequeno Émile (Jules Lefebvre) seu pai é seu herói. Suas histórias são as melhores do mundo, e suas profissões inigualáveis. Esse é o ponto de partida desse drama doce-amargo As Histórias de Meu Pai. O roteiro, assinado por Amélis e Murielle Magellan, parte do livro de Sorj Chalandon, e traz uma figura peculiar, quase excêntrica no personagem paterno, André, interpretado pelo celebrado ator Benoît Poelvoorde. A trama se passa no começo dos anos de 1960, e André conta ao filho suas grandes “façanhas” e peripécias, como campeão de judô, paraquedista, jogador de futebol, espião, e, em especial, “Conselheiro de Charles de Gaulle”. Mas a verdade pode tardar, mas não falha.  

Programação

QUINTA-FEIRA (23/02/2023)

10h – Perlimps

14h – As Histórias de Meu Pai

16h – Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho

19h10 – Memória de Um Crime (Sessão Especial República Dominicana)

21h – Mato Seco em Chamas

SEXTA-FEIRA (24/02/2023)

10h – Perlimps

15h – As Histórias de Meu Pai

17h – Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho

19h10 – Mato Seco em Chamas

SÁBADO (25/02/2023)

10h – Perlimps

15h – As Histórias de Meu Pai

17h – Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho

19h10 – Mato Seco em Chamas

DOMINGO (26/02/2023)

10h – Perlimps

15h – As Histórias de Meu Pai

17h – Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho

19h10 – Mato Seco em Chamas

SEGUNDA-FEIRA (27/02/2023) 

15h – As Histórias de Meu Pai

18h – Lançamento Projeto Brasília: Cidade Turística e Cinematogáfica

20h30 – Mato Seco em Chamas

TERÇA-FEIRA (28/02/2023)

10h – Perlimps

15h – As Histórias de Meu Pai

17h – Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho

19h10 – Mato Seco em Chamas

QUARTA-FEIRA (01/03/2023)

10h – Perlimps

14h – As Histórias de Meu Pai

16h – Andança – Os Encontros e as memórias de Beth Carvalho

18h10 – Mato Seco em Chamas

21h – Fogaréu (Mostra Todas as Mulheres)

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