O cardiologista intervencionista Ernesto Osterne fala sobre como os brasileiros deixaram de lado sintomas de problemas cardiovasculares, medidas de prevenção e consultas ao médico.
Passados quase dois anos do início da pandemia de COVID-19, especialistas alertam para o fato de que pessoas no mundo inteiro acabaram deixando em segundo plano alguns cuidados importantes com a saúde. Isso não é diferente quando falamos de problemas cardiovasculares. Em 2020, um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), com apoio da empresa Edwards Lifescience, para a campanha “Unidos pelo Coração”, mostra que por conta de todo este cenário, muitos brasileiros passaram a cuidar menos do coração durante a pandemia.
Foram ouvidas cerca de duas mil pessoas, numa amostra representativa e proporcional da população brasileira, com margem de erro de 2 pontos percentuais nos resultados. O resultado é surpreendente e alarmante, pois 52% dos entrevistados afirmaram que deixaram ou evitaram ao máximo algum tipo de atendimento médico por medo de contaminação do coronavírus. Sendo que, dos entrevistados pela pesquisa, 18% tiveram sintomas típicos de doenças cardiovasculares, como dor no peito ou dormência no braço. Entretanto, 26% dessas pessoas sintomáticas retardaram o quanto puderam a busca por atendimento médico.
Aumento de óbitos por doenças cardiovasculares em 2021
Dados divulgados pela Arpen-Brasil (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil) mostram um aumento de quase 7% de óbitos por doenças cardiovasculares nos primeiros seis meses de 2021, comparado ao mesmo período de 2020, e o número de infartos aumentou 3,14%. Houve, também, uma maior incidência de mortes em casa por doenças do coração, uma alta de 11,74%.
Segundo o cardiologista intervencionista Ernesto Osterne, do ICTCor – Instituto do Coração de Taguatinga, de fato o que se observa nos consultórios é que muitos brasileiros deixaram de frequentar suas consultas de rotina por medo de serem infectados pelo vírus e acabaram agravando suas doenças. O médico explica que desde o início da pandemia, quando foi decretado o isolamento social, foram se desenvolvendo duas realidades. A primeira são os pacientes sem um diagnóstico de problemas cardiovasculares, mas que faziam seu check-up regularmente e pararam de fazer a pesquisa ativa, bem como a investigação primária, e que neste meio tempo podem ter desenvolvido problemas cardiovasculares que vão se agravar caso não haja um controle. Já a segunda, são os pacientes diagnosticados com problemas no coração que já faziam acompanhamento com o cardiologista, mas que deixaram de frequentar o profissional de saúde porque faziam parte do grupo de risco. Com isso, houve crescimento do número de internações nos hospitais em todo o país.
“As pessoas precisam, na medida do possível, retomar seus cuidados com a saúde de forma geral. Ir ao seu médico e às suas consultas de rotina. Tanto aqueles que estão em tratamento como aqueles que querem reduzir os riscos e prevenir doenças cardiovasculares”, alerta ele.
Como retomar os cuidados com o coração?
De acordo com o Dr. Osterne, ações simples de prevenção, como cuidados com a alimentação e atividade física, atuam para reduzir os riscos de infarto, entre outras doenças. “Praticar atividades físicas, ter uma alimentação saudável, evitar o cigarro e o consumo exagerado de bebidas alcoólicas, além de fazer o acompanhamento médico anual, são importantes para ter uma vida melhor e mais saudável”, ressalta o cardiologista.
Atividades físicas: exercícios aeróbicos, no mínimo três vezes por semana, como corrida, caminhada, ciclismo, natação e dança. Entretanto, é importante consultar o médico sobre a atividade adequada para cada paciente.
Controle o peso: estar acima do peso ideal contribui para desencadear diversas doenças cardiovasculares, como hipertensão e colesterol alto, por isso é importante controlar o sedentarismo e ter uma alimentação saudável.
Cigarro e consumo de bebidas alcoólicas: o consumo de álcool, como apontam diversos estudos, causa danos às células do coração e aumenta as chances para doenças cardiovasculares (infarto e insuficiência cardíaca). Já o tabagismo, contribui para o estreitamento das artérias e para a elevação da pressão arterial.
Estresse: altos níveis de estresse provocam uma série de alterações no organismo, contribuindo para o surgimento de diversas patologias, como o aumento da pressão arterial, decorrente da descarga de adrenalina. Por isso, a indicação é que as pessoas procurem atividades de lazer que contribuam para a redução do estresse e ansiedade.
“É de extrema importância o check-up anual, pois o controle da pressão arterial deve ser feito com periodicidade, principalmente quando existe histórico de doenças cardiovasculares na família. Para quem é hipertenso, a recomendação é realizar a verificação a cada três meses, ou de acordo com a orientação do cardiologista”, conclui o Dr. Ernesto.