A fibromialgia causa fadiga, problemas de sono e “sensibilização central”, em que o sistema nervoso reage de forma exagerada a estímulos. A Síndrome de Hipermobilidade, caracterizada por articulações flexíveis e dor, reflete a dor musculoesquelética generalizada da fibromialgia. Compreender sua natureza multifatorial, incluindo estresse biomecânico e fragilidade tecidual, é essencial para um manejo eficaz.
A alta prevalência de hipermobilidade em pacientes com fibromialgia sugere uma etiologia potencialmente interconectada, que pode agravar os sintomas de ambas as condições. Isso reforça a necessidade de uma abordagem integrada no tratamento. Estratégias tradicionais de manejo da dor na fibromialgia, como exercícios aeróbicos e de força, precisam ser ajustados para evitar a piora da instabilidade articular em pacientes hipermóveis.
Em indivíduos com hipermobilidade, frequentemente associada à fibromialgia, lesões musculotendíneas periféricas são comuns devido à propriocepção reduzida e fragilidade tecidual. Essas lesões podem se tornar focos de sensibilização periférica, exacerbando potencialmente a sensibilização central característica da fibromialgia. Esse duplo mecanismo de sensibilização pode intensificar a dor generalizada típica da fibromialgia, sugerindo uma interação complexa entre lesões periféricas e processos de dor central. Compreender essa relação intrincada é fundamental para diagnóstico e manejo, considerando o amplo espectro de mecanismos de geração e amplificação da dor nessas condições interligadas.
Em indivíduos hipermóveis, pode-se observar uma redução no tônus muscular alfa, provavelmente devido à disfunção dos órgãos tendinosos de Golgi. Essa disfunção pode levar a uma regulação inadequada do tônus muscular. As fibras nervosas ascendentes alfa, essenciais na modulação da dor, também desempenham um papel significativo na fibromialgia, afetando as interações com o sistema cardiovascular e o manejo da fadiga. Sua disfunção ou hiperatividade destaca o equilíbrio crítico que elas mantêm na percepção da dor, regulação cardiovascular e homeostase geral do corpo.
A intrigante sobreposição entre fibromialgia e hipermobilidade ecoa a descoberta histórica da Síndrome X no final da década de 1980 pelo Dr. Gerald Reaven.
Inicialmente, a Síndrome X descrevia a relação entre hipertensão e resistência à insulina, um mistério na saúde cardiovascular e metabólica. Com o tempo, essa compreensão evoluiu para o que agora é conhecido como Síndrome Metabólica, destacando a natureza interconectada dessas condições.
Essa progressão no entendimento se assemelha à nossa atual exploração de um potencial “Síndrome X da Dor”. Esse conceito busca encapsular a complexa interação entre fibromialgia e hipermobilidade.
A investigação sobre uma “Síndrome X da Dor” não é meramente acadêmica. Desvendar essa relação complexa pode levar a estratégias terapêuticas inovadoras, assim como o impacto da Síndrome X no tratamento cardiovascular. Promete um entendimento mais profundo da interconexão da fisiologia humana, particularmente nos domínios da dor e dos sistemas neurossensoriais.
Em resumo, a correlação entre fibromialgia e hipermobilidade, e seus potenciais caminhos fisiopatológicos compartilhados, abre uma nova fronteira na pesquisa médica. A busca por definir e compreender uma “Síndrome X da Dor” pode ser a chave para desbloquear novas abordagens no tratamento e manejo de distúrbios de dor crônica, oferecendo esperança e melhor qualidade de vida para milhões de pessoas que sofrem ao redor do mundo.
Dr. Carlos Gropen
Grupo de Dor, Departamento de Medicina Interna, Universidade de Brasília – UnB, Brasília, Brasil