Secec e Sedes fazem parceria para exibir filmes nas unidades do Autódromo e Ceilândia durante o período de pandemia
No trabalho de acolhimento à população em situação de rua durante esse período de pandemia da Covid-19, as secretarias de Cultura e Economia Criativa (Secec) e de Desenvolvimento Social (Sedes) do Distrito Federal firmaram parceria para exibir filmes para as pessoas que estão acolhidas nos Alojamentos Provisórios do Autódromo Nelson Piquet, no Plano Piloto, e no Estádio Abadião, em Ceilândia. Cada unidade tem a capacidade para abrigar até 200 pessoas.
Trata-se de ação para minimizar o sofrimento causado pelo isolamento social, e não de sessões públicas de cinema. Em cada alojamento, foram montados 50 contêineres, com capacidade para quatro adultos cada, do sexo masculino. A estrutura conta ainda com um espaço de recreação, com jogos de carta e pebolim. No local, foi montada uma tenda coberta, aberta nas laterais, onde os acolhidos podem assistir aos filmes projetados.
“Os alojamentos foram montados com o objetivo de oferecer a esse público a possibilidade de cumprir o devido isolamento, mas sempre com a dignidade e o respeito que toda vida humana merece. Esse tipo de parceria, como essa com a Cultura, proporciona um trabalho voltado, principalmente, para a autonomia dessas pessoas”, destaca a secretária de Desenvolvimento Social, Mayara Noronha Rocha.
“Em momentos como este que estamos vivendo, levar cultura é como levar um agasalho a quem precisa, afinal o cinema, ao mesmo tempo que entretém, nos permite refletir sobre o nosso papel no mundo”, corrobora o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues.
A preocupação fundamental das duas pastas é com a segurança dos espectadores durante as sessões promovidas por uma equipe do Cine Brasília, equipamento da Secec. Durante as projeções, os alojados se acomodam em cadeiras distantes uma da outra e usam máscaras. Todos os servidores envolvidos no projeto foram orientados a fazer uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como máscaras, luvas e álcool 70%.
“Nosso objetivo, enquanto formuladores de política pública, é usar a linguagem do audiovisual para provocar reflexão nesta população e cultivar a cidadania, exibindo obras que os estimulem o pensar, que suscitem debates em torno de questões relevantes para eles. Visamos estimulá-los a pensar sobre sua própria situação”, resume o gerente e programador do Cine Brasília, Rodrigo Torres.
Para contribuir nesse sentido, os filmes escolhidos são de diretores e diretoras brasilienses, que cederam os direitos de exibição dos longas. “O simples fato de mostrar imagens produzidas no Centro-Oeste já revela possíveis conexões entre o espectador e a obra. Há um estranhamento e uma curiosidade que motiva o espectador a ver o filme até o final”, explica Torres. Segundo o gestor, esse público só costuma ter algum acesso a produções estrangeiras ou do eixo Rio-São Paulo pela televisão aberta.
Durante o isolamento, já foram exibidos longas de Marcus Ligocki, Pedro Lacerda, Fabrício Cézar, Marcelo Diaz, Santiago Dellape, Cibele Amaral e Tânia Quaresma. Na sessão programada para essa quinta-feira (25) no Nélson Piquet, está o famoso “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio. A ficção narra a história de João de Santo Cristo, célebre na canção homônima da banda brasiliense Legião Urbana.
Carro fornecido pelo GDF faz o transporte dos equipamentos e dos servidores até os alojamentos e garante o retorno deles às suas casas dentro dos protocolos de segurança sanitária. Cada sessão é apoiada por três profissionais lotados no Cine Brasília, que se encarregam da montagem e desmontagem do sistema de projeção.
Dia a diaO alojamento provisório instalado no Autódromo Internacional Nelson Piquet recebe a população em situação de rua do Distrito Federal desde 7 de abril. A estrutura montada nos paddocks do autódromo, desativado desde 2014, oferece dormitórios, banheiros, área para a lavagem de roupas e as três refeições, diariamente. Hoje, 180 pessoas estão alojadas na unidade.
O Alojamento de Ceilândia, por sua vez, conta com 66 containers; sendo 46 dormitórios em áreas comuns, oito para banheiros sanitários, quatro para banho e quatro dormitórios para isolamento de pessoas com suspeita de infecção. Há ainda mais quatro destinados a banheiros para os casos suspeitos da Covid-19. O espaço conta com uma área de convivência, refeitório e biblioteca. No local, estão abrigadas 182 pessoas.
O encaminhamento dessas pessoas para acolhimento é feito por uma central que gerencia o Sistema Integrado de Desenvolvimento Social (Sids), responsável pelo cadastro de pessoas em situação de vulnerabilidade social no DF. Essa equipe envia para a Sedes a lista com as solicitações de vagas; assim, os técnicos da secretaria fazem um diagnóstico e em seguida realizam o encaminhamento dessas pessoas em situação de rua para as unidades de acolhimento, sejam aquelas de execução direta ou organizações da sociedade civil parceiras do GDF.
A coordenação de Abordagem Social da Sedes estima que, atualmente, haja 1.800 pessoas em situação de rua no DF.