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Cine Metro é recriado em documentário brasileiro inédito e inovador

Construído no Centro do Rio em 1936 e fechado desde 1997, luxuoso cinema da MGM é minuciosamente reconstituído em Realidade Virtual no documentário “Cine Metro: Experiência Imersiva”, do diretor Eduardo Calvet, já acumulando prêmios e participações em festivais de todo o mundo

Imagem Divulgação

Os áureos tempos dos luxuosos cinemas de rua voltaram à realidade! Pelo menos na Realidade Virtual, porém deixando pegadas de verdade em mostras e festivais internacionais de cinema em diversos cantos do mundo por conta do seu ineditismo. Assim se destaca “Cine Metro: Experiência Imersiva”, filme documental em realidade virtual do diretor Eduardo Calvet que transporta o espectador diretamente para a sessão de estreia do Cine Metro Passeio, realizada com muitas pompas e sofisticação em 1936, no Centro do Rio de Janeiro. O documentário já nasce, simultaneamente, clássico e inovador, uma vez que não há registros, no mundo, de outro filme documental sobre cinemas antigos produzidos em realidade virtual.

            A emocionante viagem no tempo percorre o luxuoso palácio de cinema carioca do século XX, construído pela MGM na Rua do Passeio – o primeiro a dispor de ar-condicionado na época – funcionando até 1964, sendo substituído pelo Metro-Boa Vista, e desativado em 1997. Com produção da IDEOgraph e apoio do Programa de Pós-Graduação em Mídias Criativas (PPGMC), da UFRJ, depois de percorrer desde abril mostras em Portugal, Suíça, Alemanha, Inglaterra e Colômbia, a produção imersiva de quase 10 minutos acaba de ser selecionada para o BIAF, festival internacional de animação na Coréia do Sul (de 22 a 26 de outubro de 2021) – também em outubro, participará de festivais na Rússia, Hungria e Porto Rico, fechando a agenda do ano na Inglaterra, em novembro (Aesthetica Short Film Festival 2021).

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            Fruto do projeto de pesquisa do Mestrado em Comunicação, “Cine Metro: Experiência Imersiva” tem o mérito de contextualizar o passado para a contemporaneidade através de uma experiência imersiva em vídeo 360º e amplamente acessível. A pesquisa realizada pelo diretor Eduardo Calvet baseou-se em uma coleta de vestígios consideravelmente ampla, que incluiu periódicos de grande circulação (Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Diário Carioca, Revista Cine Arte), folhetos de programação, livros, artigos, dissertações e teses acadêmicas, sites e também visitas ao edifício que efetivamente abrigou o cinema. A pesquisa também se baseou em relatos orais, já que boa parte das informações sobre o interior do prédio – como cores e texturas – foram encontradas a partir da memória de frequentadores da época.

            A partir de fotografias e modelos originais, foi possível reconstruir, com muita fidelidade e apuro técnico, a experiência única de se frequentar o Cine Metro Passeio dos anos 30: o contraste das fontes na marquise, as formas decorativas do foyer no estilo D. João V, os refinados traços do mobiliário, a proporção volumétrica e curvatura da grande sala de exibição, os detalhes de iluminação, a distribuição da plateia em níveis, a tonalidade das poltronas e a diferença de ruído entre a rua e a poltrona. Em termos sonoros, o espectador pode ouvir elementos importantes de espacialização com o respectivo cálculo de proximidade e movimento de cabeça do observador: as então inovadoras luzes em neon na parte externa do imponente edifício, o gongo, o som característico dos projetores e os múltiplos elementos de cada ambiente.

            Vale ressaltar que salas de exibição cinematográfica foram os espaços de maior difusão artística e cultural do século XX. De sua incipiente origem em 1888 até seu domínio cem anos depois, a sétima arte evoluiu mobilizando recursos humanos e materiais em proporções inimagináveis ao meio cultural dos anos 1900. Tão importante quanto o filme projetado, a ambiência criada pelo espaço físico de exibição era extremamente valiosa: o conforto dos assentos, a plasticidade dos contornos arquitetônicos, o refinamento da decoração, a maciez dos carpetes, o isolamento acústico impecável. Tais requisitos faziam da visita aos cinemas não apenas uma supressão do desejo pela obra, e sim um evento social atrelado ao próprio ritual de expectação, uma experiência sensorial apuradíssima, que teve seu primeiro auge brasileiro exatamente no final dos anos 1930, com espaços como o Cine Metro, conhecidos como “palácios cinematográficos” (movie palaces).

            O filme documental de Calvet busca reproduzir, com a máxima fidelidade nos detalhes, a sessão de estreia deste cinema icônico, em 1936, com o filme “O Grande Motim”, com Clark Gable no elenco. Através de trechos de jornais e revistas da época, foram criados os textos de locução, cuja versão em inglês, inclusive, baseou-se em publicações americanas que noticiaram a inauguração do Cine Metro, como os periódicos Variety e Motion Picture Herald, dentre outros. Por conta da escassez de documentos e registros oficiais, a reconstrução tridimensional e todo o cálculo do espaço interno foram formulados a partir de detalhada observação das fotos, a geometria das imagens, a proporção dos elementos dispostos e a planta baixa, conseguindo alcançar um resultado com a configuração original mais provável. Os espaços reconstituídos foram modelados em altíssima resolução com mais de 25 milhões de polígonos no modelo 3D, somando os quatro ambientes do cinema: área externa, sala de exibição, antessala e sala de projeção – utilizava-se, na época, quatro projetores, no mínimo, para atender às limitações tecnológicas (os filmes vinham em rolos, havia também a necessidade de um projetor reserva e outro para a exibição dos slides dos anúncios e “trailers” prévios de cada exibição).

            “Ainda que acontecimentos passados não possam ser revisitados de forma ativa, as ferramentas exploradas em “Cine Metro: Experiência Imersiva” nos transportam para momentos indeléveis da vida social de uma geração: hábitos, costumes e dinâmicas”, comenta Calvet. “Pistas preciosas, de valor inestimável na pavimentação do caminho de quem somos hoje enquanto sociedade… se não é possível viajar no tempo, pelo menos podemos reconstruir em realidade virtual um mosaico digital de fragmentos de nossa herança cultural, que pode trazer subsídios poderosos e proporcionar um verdadeiro legado para as gerações futuras”, conclui.

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