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Podcast, “podnovela”, áudio-história, audiodrama? Qualquer um desses termos serve para a nova denominação de um antigo produto – a radionovela –, que desde “Em Busca da Felicidade”, folhetim cubano (1941, de Leandro Blanco com adaptação de Gilberto Martins), fazia verter lágrimas no público de vários cantos do Brasil que sintonizava a Rádio Nacional do Rio de Janeiro todas as manhãs, puxando para cima as vendas da pasta de dente patrocinadora do dramalhão.
Com essa história em mente, o brasiliense José de Campos escreveu o projeto batizado “Curto!”. Em parceria com a produtora Kocria Audiovisual, conseguiu financiamento do edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) Audiovisual n° 16/2018, na linha de apoio “Projeto Livre”, para transformar em podcasts roteiros de curtas-metragens adormecidos em gavetas. O projeto gera 31 empregos diretos e indiretos.
TRABALHO DE FORMIGUINHAS
Formado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília (UnB) e em Cinema e Mídias Digitais pelo Instituto de Ensino Superior de Brasilia (Iesb), Campos propôs aos parceiros da Kocria – Natália Brandino, produtora e pesquisadora formada em Administração, com pós em Cinema e Finanças, e Walder Junior, produtor formado em Cinema e em Processamento de Dados – garimpar histórias em roteiros não premiados pelo mesmo FAC e transformá-las em áudio-histórias.
Ele conta que os três fizeram, a partir da premiação, “um trabalho de formiguinha”, buscando, nas listas de resultados finais do instrumento de fomento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), diretores e diretoras que topassem dar uma segunda chance a roteiros de curtas-metragens que não conseguiram recursos públicos para virar filme, transformando-os em podcasts.
“A gente não tem acesso a dados de telefone ou endereço dos proponentes nas planilhas do FAC, mas, como trabalhamos na área, alguns deles a gente conhece; outros, buscamos nas redes sociais”, explica Campos, que também é ator e trabalha na preparação de atores.
Quando localizam a pessoa, ainda têm de convencê-la a topar fazer a migração entre linguagens. “Há uma resistência natural porque parece que o podcast é algo menor. Mas isso vai mudar quando a primeira temporada de programas for ao ar no ano que vem”, aposta.
PROJETO PROVOCA ENTUSIASMO
O podcast no projeto de Campos será uma história em áudio de até 30 minutos, gravada em estúdio, com diretor de dublagem e equipe de atores e atrizes escalados a partir de um banco de vozes com o auxílio do autor do roteiro original. Este fará o “briefing” da equipe e supervisionará a construção da história no novo formato.
O programador do Cine Brasília, Rodrigo Torres, entusiasma-se com a ideia: “O projeto traça uma analogia direta com as tão populares radionovelas brasileiras. É inegável a enorme influência desta linguagem em nossa teledramaturgia e cinema. Atualmente, essa modalidade expressiva indica uma independência em relação ao rádio e uma abertura para outras formas de difusão de conteúdo em áudio”.
“Acho que é um projeto que tem como grande trunfo oferecer um novo processo e uma tecnologia de contar histórias que talvez nunca seriam contadas de outro modo. Mostraremos o que pode ser feito e como fazemos, para que outros possam usar isso em seu benefício”, referenda Walder, da Kocria.
Ainda neste mês, as histórias inscritas no site do projeto (veja abaixo) serão selecionadas pelo trio, reforçado pelo roteirista profissional Guilherme Sadeck, com formação no Canadá e Brasil. Outros quatro roteiros serão escolhidos por votação popular no site. Novembro e dezembro serão período de produção. O lançamento está previsto para 1º de fevereiro de 2021. A planilha prevê 24 narrativas em duas temporadas.
“O grande mérito dessa proposta apoiada pelo FAC consiste justamente em unir os fundamentos do audiodrama com as ideias de roteiros inéditos de cinema. É a oportunidade de oferecer uma nova chance a boas histórias que não tiveram recursos financeiros para serem materializadas no formato audiovisual”, emenda Torres.
PODCAST EM ALTA
O diretor e o ator Wellington Abreu (foto) inscreveu seu projeto e não esconde a ansiedade diante do processo de escolha dos roteiros que vão virar áudio-histórias: “Tomara que a minha seja selecionada. Será uma grande experiência, uma vez que poderei melhorar os diálogos do curta. O podcast vai me dar essa dimensão, esse entendimento do filme por meio dos diálogos. Depois da pandemia, pretendo rodar o filme”.
O ator e palhaço, licenciado em Educação Artística e pós-graduado em Metodologia do Ensino de Arte, que já atuou em filmes de curta, média e longa metragens, inscreveu no Curto! o roteiro do seu drama inédito “Água Morta”. Com três personagens principais e nove secundários, o roteiro dramatiza casos de mortes e desaparecimentos de pessoas na barragem do Rio Descoberto, no DF.
Essa é outra possível destinação para o produto do Curto!, acredita José de Campos, de olho nas oportunidades da economia criativa. “O podcast está em alta”, sentencia. Ele acredita que o novo formato seja uma maneira mais atraente para diretores convencerem produtores do potencial de suas histórias, assim como forma mais dinâmica de apresentar um roteiro para a equipe de produção de um filme antes de a trupe assumir os altos custos do “setting” de filmagens.
Torres concorda: “muitos consideram o cinema como a arte mais cara do mundo. O Curto! oferece uma solução criativa e menos dispendiosa para colocar público e interessados em contato com estas produções”. Campos ilustra com um exemplo: “filmar um helicóptero é muito mais dispendioso do que soltar o efeito sonoro das hélices girando”.
